sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Quando o inimigo tenta cortar a adoração

E disse o Senhor a Satanás: Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele... Então respondeu Satanás ao Senhor: Estende a tua mão, e toca em tudo quanto tem, e verás se não blasfema de ti na tua face. Jó 1:8,11

 

O livro de Jó é uma das mais intensas narrativas da Bíblia. Ele revela o conflito entre a fidelidade humana e as investidas espirituais do inimigo. Há, porém, um detalhe sutil e profundo nessa história: quando Satanás recebe permissão para tocar naquilo que pertencia a Jó, ele não começa pelos filhos — começa pelo rebanho.

 

Do ponto de vista humano, isso é curioso. Porque, para qualquer pai, a perda de um filho é a dor mais dilacerante que existe. Nenhum bem, nenhuma riqueza, nenhum animal de rebanho se compara ao valor de um filho. Um pai preferiria perder todos os seus bens do que enterrar um filho. Mas o diabo, ainda que perverso, é estratégico. Ele sabia o que estava fazendo.

 

Antes de tocar no coração, ele quis tocar no altar. Antes de provocar a dor emocional, ele quis romper o vínculo espiritual. Jó mantinha sua comunhão com Deus através daqueles rebanhos — era deles que vinham os sacrifícios diários, o fogo constante do altar. O inimigo sabia que, se calasse a adoração, o restante cairia por terra naturalmente.

 

O diabo não tem interesse apenas em causar sofrimento; ele quer quebrar a adoração. Ele quer fazer o crente desistir de oferecer a Deus o sacrifício de louvor. Por isso, primeiro ele toca no que sustenta o altar. Porque se o altar apaga, o fogo se extingue, e o coração perde o rumo.

 

Mas Jó nos ensina que a verdadeira adoração não depende das posses nem das condições. Quando ele perdeu o rebanho, perdeu também o meio material dos sacrifícios — mas não perdeu o espírito de adorador. E mesmo quando tudo desabou, inclusive a dor impensável de ver seus filhos mortos, ainda assim ele declarou:

 

“O Senhor o deu, o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor.” (Jó 1:21)

 

A adoração de Jó não estava presa aos cordeiros do curral, mas ao Cordeiro eterno que reina no trono. Ele entendeu que enquanto houver coração que adore, haverá altar aceso.

 

Por isso, quando o inimigo tentar tocar em algo teu, lembra: o alvo dele não é teu bem, é tua adoração. Ele pode mexer nas coisas, mas não pode tocar no que te liga ao céu. Mantém o fogo aceso, mesmo quando não há rebanho à vista. Porque, no fim, Deus sempre providencia o cordeiro.

Márcio - Miraí/MG